Moradia

Moradora em vulnerabilidade reivindica casa no loteamento Estrada do Engenho

Jovem alega que é a única mulher com filhos que não foi contemplada com uma unidade no residencial; a sogra dela argumenta que servidor da Habitação teria negociado inclusão da mulher no cadastro

Foto: Volmer Perez - DP - Precariedade da moradia da família afetou diretamente a saúde das duas crianças

Toda vez que chove, Tamara, de 18 anos, tem que sair com os dois filhos pequenos e se deslocar para a casa da sogra no Loteamento Estrada do Engenho. A jovem mora no local conhecido como Beco da Meneguetti e alega que foi a única mulher com filhos a não ter sido contemplada com uma residência no projeto de moradias populares. Em razão das condições em que vive, Tamara foi acometida por uma infecção generalizada após o parto do mais novo. Sem acesso à água potável, a primogênita faz tratamentos constantes contra os vermes. Diante da situação degradante, sogra e nora reivindicam do Município a inserção da jovem mãe em algum cadastro de política habitacional, e apontam que um servidor teria tentado “negociar” a inserção.

Quem passa pela estrada de chão da rua Mário Meneghetti, próximo à Estrada do Engenho, não imagina que, em um beco estreito entre dois muros, há uma viela que dá a uma área com várias casas, feitas com pedaços de madeira, em que vivem pessoas em extrema vulnerabilidade social. De acordo com relatos, a maior parte dos antigos moradores teriam sido contemplados com as casas do Loteamento, e os novos residentes estariam ocupando os chalés inutilizados. O mesmo aconteceu com Tamara Bandeira. Antes ela vivia com o marido e dois filhos em um espaço de somente duas peças pequenas e sem banheiro. Com a mudança para o loteamento, a sogra cedeu a sua antiga casa para a nora.

A moradia, que é maior em tamanho, possui várias frestas entre as paredes de madeira, possibilitando a entrada de água e frio. “Chove que nem na rua, a nossa telha da cozinha desabou com a água, no último temporal eu tive que ligar para ela [a sogra] para me ajudar a sair com as crianças, porque estava chovendo dentro de casa e estava tudo alagado”, relata a jovem. De acordo com a sogra, Iracimar Cardoso, no período de cadastros para a contemplação com as unidades na Estrada do Engenho, Tamara também foi inscrita. “Ela ficou comigo em minha casa e lá foi feito o cadastro da Tamara pela assistente social”, relata.

A mulher alega que, quando o nome da nora não saiu na lista dos contemplados, ela questionou uma pessoa da Secretaria de Habitação, que teria oferecido “um negócio”. A proposta seria a de que Iracimar doaria os materiais da sua antiga casa para o servidor. “Ele disse ‘me doa ele [o material], que eu consigo uma casa para o teu filho’”, conta. Ela teria aceitado a troca, mas a inclusão do nome de Tamara nos cadastros habitacionais nunca teria sido realizada. “Eu pensei que a lista seria refeita e apareceria o nome dela. Aí ele disse, ‘calma que o nome dela vai aparecer e está em pé o nosso acordo’”, diz.

Indignada com a situação e a falsa esperança de que a nora teria uma moradia digna, Iracimar diz que chegou a enviar várias mensagens ao servidor questionando o que havia acontecido. “Ele disse ‘cara, eu nunca prometi nada para ti’, mas por descargo de consciência vai sair novas casas aqui e ele me garantiu que nessas cinco casas ele incluiria o nome dela”. No entanto, novamente, Tamara não está incluída no cadastro.

Precariedade

Exposta a riscos, com uma criança de dois anos e uma de dez meses, Iracimar teme pela segurança e saúde da jovem e seus netos devido à falta de condições básicas no Beco da Meneguetti. “A Tamara fez uma cesárea no nascimento do segundo filho e pegou uma infecção lá dentro [da casa]. Ela esteve na UTI e quase morreu. Foi uma infecção generalizada devido à bactéria que ela pegou lá. Ela tem 18 anos e já não tem mais útero, teve que tirar”, conta.

A água que a família bebe e toma banho chega por um encanamento que passa dentro do canal com esgoto na frente da rua. Quando chove e o nível da água sobe, o cano dentro da vala desencapa e os resíduos de sujeira entram pelos tubos até as torneiras. Quando isso ocorre, é necessário que alguém entre no canal para enroscar os canos novamente. A energia elétrica é puxada dos postes por fios que ficam pendurados nos terrenos entre as casas, expostos e sem nenhuma proteção. Os curtos circuitos causam incêndios periódicos entre as casas. Diante da falta de saneamento básico, além da infecção que acometeu Tamara, as crianças foram diagnosticadas várias vezes com vermes em razão da água infectada que consomem.

Cadastro não realizado

Conforme a secretária de Habitação e Regularização Fundiária (SHRF), Claudia Leite, Tamara não foi contemplada porque, na ocasião do levantamento, ela e seu cônjuge estariam morando com a sogra. “Neste caso, não foi realizado o cadastro separado, pois eles faziam parte do mesmo núcleo familiar. Sendo assim, não houve perda de cadastro”, diz a nota via assessoria de comunicação.

A titular da pasta, assim como o servidor mencionado, garante não terem feito qualquer acordo, e afirma que os critérios para seleção das famílias do beco teriam sido feitos através de levantamento realizado in loco, na ocasião, pelo serviço social da SHRF. Com relação ao questionamento sobre a construção de mais cinco casas, a secretaria confirma que está no planejamento da pasta. Estas residências estão destinadas, desde o início do processo, aos pescadores do entorno da Estrada do Engenho, conforme o levantamento inicial, para a construção do Parque da Estrada do Engenho.

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